Caminhei quilômetros de estrada incomodada, barulhos, pessoas reclamando, uns desmarcavam compromissos, outros repassavam informação de um dia atípico pelos aparelhos celulares. As ruas, por onde passava, pareciam uma linha de produção, carros enfileirados aguardando o momento para entrar em movimento.
Não havia muita compreensão, os mais desavisados usavam palavras chulas para descrever o momento. Eu procurei correr, estava distante demais do início para interpretar ao certo a paralização. Poderia ser uma corriqueira batida na rodovia Dom Pedro, que impedia todo o trânsito de circular, mas chegando perto, eu vi personagens que ficavam na coxia e ajudavam todo o expetáculo econômico/social no Brasil acontecer. Eu escutei vozes desconhecidas. Naquele momento eles não eram figurantes, mas protagonistas de um filme já assistido inúmeras vezes pelos brasileiros, mas não com os “Protagonistas do Brasil”.
Meus passos medidos, sem rumo, fizeram transparecer na face o espanto e em seguida minha admiração. Naquele momento eu vi megafones, holofotes, palco maior que milhões de Maracanãs erguidos, eu senti a energia de pessoas mais do que indignadas com o país.
Acontece que não era no Google que eu iria encontrar a receita para a mudança, tampouco em vídeos para emissoras de televisão encomendando o Brasil dos meus sonhos. É desse papel que escrevo, para a realidade.
Não vem ao meu intelecto o conhecimento de pessoas envolvidas, empresas, subornos, tampouco políticos, o julgamento do certo ou errado. Eles agiram em prol a um único motivo maior: mudar a realidade em que estavam inseridos. E para isso eles precisaram sofrer anos, passar por apuros, e no fim gritar, como um filho precisando de amparo, porque de amor e esperança à terra desce, para ter estampado na flâmula das próprias mãos, paz no futuro e glória no passado.
Malala resistiu às ameaças, tiros, mesmo jovem, pela luta de uma educação igualitária, e com um livro, uma caneta e um lápis chamou a atenção para um quesito simples, com preocupação irrelevante para os governantes. Martin Luther King sofreu anos na cadeia, mas enxergou a luz no final do túnel e com seu sonho levou para o mundo a campanha da não violência e a importância do amor ao próximo.
Todos eram pessoas comuns, despercebidas pelos holofotes, personagens que auxiliavam nas coxias, para todo o espetáculo acontecer. Por incrível que pareça cada um tinha seu artefato de guerra, uns lápis, caneta, papel, outros sonhos, outros caminhões, mas todos eles procuraram mudar um problema local, sem perceber que estavam deixando um recado para o mundo.